Dia marítimo mundial, sim, hoje

A Wikipedia diz assim: “O Dia Marítimo Mundial é um evento anual utilizado para chamar a atenção para a importância global das indústrias marítimas para o comércio mundial, assim como a promoção da segurança no transporte marítimo e para ajudar a proteger o ambiente marinho.” Curto, muito curto, para tanto a dizer!

O Dia Marítimo Mundial foi criado para comemorar a contribuição da indústria do transporte marítimo para a economia do mundo. A data do evento varia de acordo com o ano e o país, mas celebra-se sempre na última semana de setembro.
Esclarecedor mas insuficiente.

Há muito mais história para contar, para que possamos realmente entender e valorizar este dia. Para começar, saber que foi criado pela tão (hoje) falada Organização das Nações Unidas (ONU), ou melhor, pela Organização Marítima Internacional (IMO) uma das suas agências especializadas. Esta organização tem por missão promover o transporte marítimo seguro, ambientalmente saudável, eficiente e sustentável, através da cooperação. Estes objetivos são alcançados através da adoção dos mais elevados padrões de segurança e de proteção marítima possíveis, da eficiência da navegação e da prevenção e controlo da poluição por navios, bem como através da consideração das questões legais relacionadas e da implementação efetiva dos instrumentos da IMO, com vista à sua aplicação universal e uniforme

Um pouco mais. A qualidade de vida no mundo industrializado e desenvolvido, bem como o emprego e a subsistência de milhões de pessoas no mundo em desenvolvimento dependem dos navios e do transporte marítimo. No entanto, a grande maioria das pessoas não tem consciência de quanto lhes devem e como estes são importantes nas suas vidas.

Este ano, o tema do Dia Marítimo Mundial – o transporte marítimo é indispensável para o mundo - proporciona uma oportunidade de corrigir esta situação, oferecendo à comunidade marítima a oportunidade de contar a sua história: a história de um sector que, em termos de eficiência, segurança, impacto ambiental e contribuição para o comércio mundial não tem paralelo em nenhum outro sector de transportes.

No início de 2015, a frota mercante mundial contava com cerca de 90.000 navios, com uma capacidade total de transporte de cerca de 1.750 milhões de toneladas de porte bruto. Esta frota, registada em mais de 150 países e tripulada por mais de 1 milhão de marítimos, de praticamente todas as nacionalidades, é a única que permite importar e exportar mercadorias à escala necessária para manter o mundo moderno.

Esta frota mundial é também composta de navios incríveis: um só navio pode transportar grão suficiente para alimentar cerca de 4 milhões de pessoas durante um mês; um só navio pode fornecer petróleo suficiente para aquecer uma cidade inteira por um ano; um só navio pode transportar uma quantidade de produtos acabados equivalente a 20.000 veículos rodoviários pesados; um só navio pode transportar mais de 6.000 passageiros e 2.500 tripulantes. Os navios modernos são verdadeiras maravilhas da engenharia do mundo de hoje.

Em conclusão, o Dia Marítimo Mundial comemora hoje, num único dia, séculos de história. Tempo para olhar para os números apresentados e perceber que o transporte marítimo é indispensável para o mundo e para o seu futuro sustentável.

Mas, como marítimo que sou, sinto sempre que a história não está completa, se falarmos apenas de dados, análises e estatísticas.
Como todas as indústrias, também a do transporte marítimo é feita por pessoas. Mulheres e homens que asseguram que o serviço indispensável é assegurado, muitas vezes em situações incrivelmente adversas e até desumanas, não sendo no entanto valorizados ou reconhecidos por tal estoicismo.

Por essa razão, e por vício de corpo e alma, não conseguirei nunca celebrar um Dia Marítimo Mundial, sem terminar com a essência que sempre o suportará - o Marítimo. E para tal, nada melhor que recordar um merecido tributo, que conta assim:

Sou Marítimo
Sou parte da tua vida. Mesmo que não me conheças.
Vejo-te nas ruas, na televisão, em todos os lugares. Preocupo-me contigo. Ajudo a entregar as roupas que vestes, a energia que te aquece e que te move, os alimentos que suportam o teu sorriso. Ajudo-te a visitar lugares paradisíacos e a alcançares os teus maiores sonhos.
Na verdade nunca estou sozinho. Basta-me fechar os olhos e vejo-te, seguindo a tua vida. Aquece-me a alma saber que tenho uma missão. E que tu és uma grande parte dela.

Sou Marítimo
Muito mais que uma profissão, ser Marítimo é uma forma de viver. A ausência de coisas triviais e de emoções comuns, a singularidade de viver num pequeno navio flutuando num mar imenso, a humilde exposição à mãe natureza, o movimento constante da plataforma e o ciclo de partida e regresso constante, criam um ambiente único. Não apenas para o corpo. Também muito para a alma.

Sou Marítimo
Não tenho uma vida fácil no mar. Sinto falta das pessoas amadas. Sinto falta do perfume, dos sabores e das cores do meu país. Tenho saudades da rotina diária e das coisas simples. Sinto falta de intimidade. A vida no mar exige-me por completo, requerendo toda a minha energia no trabalho e na aprendizagem, enfrentando desafios infinitos. Não só físicos e técnicos. Também sociais.
O transporte marítimo é um lugar multicultural e multicolorido. Nele encontramos pessoas gigantes como montanhas ensolaradas e pessoas profundas como densos abismos. Vivendo juntos num espaço confinado, compartilhando a frequência das ondas.
Único. O mar é realmente a terra dos segredos. Quente e frio, azul e laranja, cinza também. Mágico e fantástico. O lugar perfeito para uma conversa profunda contigo mesmo.

Sou Marítimo
Confesso – tenho uma vida paralela. Quando estou no mar, sigo as suas regras, viajando ao redor do mundo, sonhando com o regresso a casa. Quando em casa, sigo as regras da família, imerso num oceano de amor e cuidados, pensando em regressar ao mar.
Em ambos os lugares pertenço, compartilho e tento oferecer o melhor de mim. Em ambos os lugares a minha liberdade acaba onde começa a liberdade de outros. Respeito. No entanto, os diferentes habitats mudam minha atitude, o meu humor, os meus sentidos e sentimentos, vestindo-me com diferentes cores. Como um camaleão do mar.
Mas, em ambos os lugares, sou sempre Marítimo. Forjado com aço e prata, em singular têmpera de coragem, força e fé, abençoado por Deus.